Cícero: contundente como sugeria o coração, elegante como pediu a Nacional

O discurso do senador Cícero Lucena foi uma mistura de angústia pessoal com respeito ao PSDB. Ao anunciar a desistência da candidatura ao governo, Cícero adequou os arroubos do coração aos limites da responsabilidade partidária.

Conseguiu dizer o que se passava no íntimo, mas evitou romper a barreira do racha partidário em nome da unidade do PSDB. Foi sincero, mas elegante. Cumpriu o que sua consciência queria no mesmo grau que cumpriu o que a Direção Nacional esperava.

Abriu sem romper com os aliados mais próximos, embora não tenha deixado de alfineta-los. “Será que errei ao não ter ouvido os profissionais que ensinam: amigos, amigos, política à parte. Lealdade, lealdade, política à parte. Correção, correção, política à parte”, perguntou Cícero.

Retoricamente, o senador fez um malabarismo que deve confortar à alma. Mas do ponto de vista prático deve ser comemorado por todos aqueles que esperavam para o fim do impasse dentro do PSDB.

A partir de agora, acabou definitivamente a novela. Os candidatos proporcionais do PSDB, inclusive nomes como Ruy Carneiro, João Gonçalves e Hervázio Bezerra, vão poder discutir as alianças para estadual e federal com o PSB, o DEM, o PPS, o PP, o PV e outras legendas da oposição.

Cássio, Ricardo e Efraim não serão mais “amantes”. Estão prontos para casar no papel.
Ricardo terá mais tempo no Guia Eleitoral. Cícero vai cuidar da campanha nacional. Não vai votar em Ricardo Coutinho, mas desistiu chamando o governador José Maranhão de “atraso”, o que o afasta publicamente do projeto de reeleição do PMDB.

O senador deve votar em Cássio para o Senado, o que afasta a tese de rompimento entre os dois.

Ou seja, na prática, venceu a lógica.

Durante todo o discurso, Cícero perguntou: “Onde foi que eu errei?”. No quesito lealdade, em momento algum. No quesito político, em apenas um: na falta de votos.

Somente o futuro, no entanto, poderá responder essa pergunta e dizer quem esteve realmente certo ou errado nesse processo, já que a política tem o encanto de derrubar lógicas assim como se mudam as nuvens.

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